quinta-feira, 21 de agosto de 2014

UCRANIA: futuro do passado




O blog hoje publica um texto, que embora não seja de um militante orgânico, foi escrito por um importante intelectual marxista brasileiro que é próximo ao PCB, um dentre tantos “amigos” do partido, que contribuem diariamente no esforço de pensar e produzir a teoria da revolução brasileira.

            Nesse sentido, trazemos a contribuição do professor da Unesp de Marília Marcos Del Roio sobre a situação da Ucrânia, o desenvolvimento histórico da crise que hoje ameaça todo o planeta devido aos enormes interesses estratégicos da região.

 Boa Leitura!!!



Desenho de Carlos Latuff


UCRANIA: futuro do passado

A Ucrânia é local de origem do primeiro reino eslavo e também das línguas eslavas. No entanto, desde o século XIV os ucranianos foram submetidos ao reino da Polônia e Lituânia. Em 1667 é feita uma partilha da Ucrânia entre Polônia e Rússia, cuja fronteira era o rio Dnieper. A extinção da Polônia como reino, em 1795, fez com que a Ucrânia ficasse dividida entre Rússia e Áustria. Com a restauração da Polônia, em 1920, a parte austríaca da Ucrânia retorna à soberania polonesa, enquanto a maior parte daquele território passa a ser república dentro da URSS. A vitória soviética contra as hordas nazifascistas, em 1945, unifica finalmente a Ucrânia.

No entanto a Ucrânia que se formou é muito heterogênea, com católicos no Ocidente e ortodoxos a Oriente; mistura com poloneses, austríacos, húngaros a Ocidente e com russos no Oriente. Importante observar que muitos russos migraram para a Ucrânia oriental a partir do século XVIII, de modo que cerca de ¼ da população atual é de língua russa, em particular na Crimeia e Novarussia. Difícil dizer o quanto se pode falar de um povo / nação ucraniano.

Nota-se assim que foi a desintegração da URSS, em 1991, que possibilitou o surgimento da Ucrânia como Estado independente. O peso do passado condiciona o futuro da Ucrânia. A única garantia da unidade territorial está na organização federal e no reconhecimento da sua enorme diversidade étnica e linguística.

Em 2011, a Ucrânia assinou um tratado de livre comercio com a Rússia, junto com outras seis repúblicas da antiga URSS. A Rússia, por sua vez empreende um movimento de criação de um espaço econômico e estratégico euroasiático. Claro que a União Europeia e principalmente os Estados Unidos tentam sabotar esse movimento com outro que busca ocupar a Ucrânia e destruir a própria Rússia, se possível, em busca de seus recursos naturais e energéticos.

Com esse objetivo é que foi articulado o golpe de Estado de fevereiro de 2014. O golpe foi organizado com assessoria dos Estados Unidos e posto em prática por todos os partidos políticos com exceção dos comunistas e do partido das regiões (ambos federalistas). O papel mais importante foi desenvolvido pelo chamado Setor de Direita e pelo partido Liberdade, herdeiro da vertente que se aliou a Hitler em 1941 na guerra de conquista e extermínio contra a URSS e por mercenários contratados nos EUA. Não por nada o seu símbolo é a suástica. Os golpistas têm por programa fazer do ucraniano a única língua nacional (o russo foi proibido) e vincular o Pais à Europa / EUA contra a Rússia, inclusive em chave militar. Recentemente, num incrível ímpeto de sinceridade, um jornalista ucraniano disse que a região oriental do País deve servir pra exploração de recursos naturais e que pelo menos um milhão e meio de pessoas deve ser exterminada (russos, por acaso).

Certo que além da entrega das riquezas do País, a Ucrânia deverá se tornar uma base militar a mais da OTAN.  Para prevenir que a esquadra americana aportasse em Sebastopol foi que a Rússia aceitou o pedido da republica autônoma da Crimeia de se vincular a Rússia (a Crimeia foi da Rússia até 1954 e é habitada por cerca de 90 % de russos). No entanto a Rússia não pode aceitar o pedido de socorro da Novarussia, por serem províncias da Ucrânia e não república autônoma. Uma intervenção direta da Rússia seria a guerra, algo que os golpistas de Kiev querem, mas a Rússia não quer. A Rússia não quer oferecer motivos para justificar a intervenção da OTAN.

As acusações e provocações contra a Rússia não cessam, incluindo a acusação (sem qualquer prova) de haver derrubado um avião civil, quando as informações e evidências atuais indicam que o avião malaio foi derrubado por um avião de combate da Ucrânia. Tudo serve para implantar punições econômicas contra a Rússia e caminhar para a guerra.

A Rússia, contudo, começa a reagir contra as punições econômicas de EUA e União Europeia, retaliando a nível comercial e investindo fundo na aproximação com antigas repúblicas soviéticas e com os chamados BRICs. Enquanto isso, na Ucrânia, as províncias rebeldes do Oriente do País resistem com bravura e contam com voluntários vindos da Rússia e de outros países. Em outras partes do País a resistência antifascista também aumenta. A crise econômica e social gravíssima tende a piorar nos próximos meses e o resultado da crise política pode ser uma crise do Estado, que verá a Ucrânia mais uma vez dividida: o ocidente será uma ruina social, como são já a Bulgária, a Romênia, mais a ocidente, enquanto o Oriente poderá cair nos braços da Rússia.

Marcos Del Roio




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