Desenho de Carlos Latuff |
UCRANIA: futuro do
passado
A Ucrânia é
local de origem do primeiro reino eslavo e também das línguas eslavas. No
entanto, desde o século XIV os ucranianos foram submetidos ao reino da Polônia
e Lituânia. Em 1667 é feita uma partilha da Ucrânia entre Polônia e Rússia,
cuja fronteira era o rio Dnieper. A extinção da Polônia como reino, em 1795,
fez com que a Ucrânia ficasse dividida entre Rússia e Áustria. Com a
restauração da Polônia, em 1920, a parte austríaca da Ucrânia retorna à
soberania polonesa, enquanto a maior parte daquele território passa a ser
república dentro da URSS. A vitória soviética contra as hordas nazifascistas,
em 1945, unifica finalmente a Ucrânia.
No entanto a
Ucrânia que se formou é muito heterogênea, com católicos no Ocidente e
ortodoxos a Oriente; mistura com poloneses, austríacos, húngaros a Ocidente e
com russos no Oriente. Importante observar que muitos russos migraram para a
Ucrânia oriental a partir do século XVIII, de modo que cerca de ¼ da população
atual é de língua russa, em particular na Crimeia e Novarussia. Difícil dizer o
quanto se pode falar de um povo / nação ucraniano.
Nota-se assim
que foi a desintegração da URSS, em 1991, que possibilitou o surgimento da
Ucrânia como Estado independente. O peso do passado condiciona o futuro da
Ucrânia. A única garantia da unidade territorial está na organização federal e
no reconhecimento da sua enorme diversidade étnica e linguística.
Em 2011, a
Ucrânia assinou um tratado de livre comercio com a Rússia, junto com outras
seis repúblicas da antiga URSS. A Rússia, por sua vez empreende um movimento de
criação de um espaço econômico e estratégico euroasiático. Claro que a União
Europeia e principalmente os Estados Unidos tentam sabotar esse movimento com
outro que busca ocupar a Ucrânia e destruir a própria Rússia, se possível, em
busca de seus recursos naturais e energéticos.
Com esse
objetivo é que foi articulado o golpe de Estado de fevereiro de 2014. O golpe
foi organizado com assessoria dos Estados Unidos e posto em prática por todos
os partidos políticos com exceção dos comunistas e do partido das regiões
(ambos federalistas). O papel mais importante foi desenvolvido pelo chamado
Setor de Direita e pelo partido Liberdade, herdeiro da vertente que se aliou a
Hitler em 1941 na guerra de conquista e extermínio contra a URSS e por mercenários
contratados nos EUA. Não por nada o seu símbolo é a suástica. Os golpistas têm
por programa fazer do ucraniano a única língua nacional (o russo foi proibido)
e vincular o Pais à Europa / EUA contra a Rússia, inclusive em chave militar. Recentemente,
num incrível ímpeto de sinceridade, um jornalista ucraniano disse que a região
oriental do País deve servir pra exploração de recursos naturais e que pelo
menos um milhão e meio de pessoas deve ser exterminada (russos, por acaso).
Certo que além
da entrega das riquezas do País, a Ucrânia deverá se tornar uma base militar a
mais da OTAN. Para prevenir que a esquadra americana aportasse em
Sebastopol foi que a Rússia aceitou o pedido da republica autônoma da Crimeia
de se vincular a Rússia (a Crimeia foi da Rússia até 1954 e é habitada por
cerca de 90 % de russos). No entanto a Rússia não pode aceitar o pedido de
socorro da Novarussia, por serem províncias da Ucrânia e não república
autônoma. Uma intervenção direta da Rússia seria a guerra, algo que os
golpistas de Kiev querem, mas a Rússia não quer. A Rússia não quer oferecer
motivos para justificar a intervenção da OTAN.
As acusações
e provocações contra a Rússia não cessam, incluindo a acusação (sem qualquer
prova) de haver derrubado um avião civil, quando as informações e evidências
atuais indicam que o avião malaio foi derrubado por um avião de combate da
Ucrânia. Tudo serve para implantar punições econômicas contra a Rússia e
caminhar para a guerra.
A Rússia,
contudo, começa a reagir contra as punições econômicas de EUA e União Europeia,
retaliando a nível comercial e investindo fundo na aproximação com antigas
repúblicas soviéticas e com os chamados BRICs. Enquanto isso, na Ucrânia, as
províncias rebeldes do Oriente do País resistem com bravura e contam com
voluntários vindos da Rússia e de outros países. Em outras partes do País a
resistência antifascista também aumenta. A crise econômica e social gravíssima
tende a piorar nos próximos meses e o resultado da crise política pode ser uma
crise do Estado, que verá a Ucrânia mais uma vez dividida: o ocidente será uma
ruina social, como são já a Bulgária, a Romênia, mais a ocidente, enquanto o
Oriente poderá cair nos braços da Rússia.
Marcos
Del Roio
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