Nas
próximas três semanas iremos colocar à disposição de vocês um breve comentário
e o link para assistir à trilogia de documentários intitulada "A Batalha
do Chile". Os documentários registram em grande parte os acontecimentos
marcantes que precedem ao governo do socialista Salvador Allende à frente da
Unidade Popular (UP), seu período no governo chileno (1970-73) e o Golpe de
Estado.
Iniciaremos
aqui a indicação da primeira da parte do documentário dirigido por Patrício
Guzmán. A parte 1 do documentário tem como subtítulo: A Insurreição da
Burguesia. O segundo: O Golpe de Estado. O terceiro: O Poder Popular.
O
ano era 1973, dia 11 de setembro, pouco mais das 8:00 da manhã. Oficiais de
alta patente, entre eles Augusto Pinochet, então comandante-em-chefe das Forças
Armadas, rebelaram-se contra o governo com o apoio de inúmeros regimentos dos
blindados de Santiago, com maciça sustentação da Marinha e com o usufruto da
logística e armamento estadunidense.
O
fatídico dia em que se consolida mais um Golpe de Estado na América Latina, não
pode ser entendido como mero acaso ou como um ato descolado de seu contexto
histórico social e político.
Desde
os anos 1920, vinha acontecendo no Chile uma intensa reorganização e remodelação
dos diversos grupos econômicos dominantes. Ainda nos 1920, surgem novos
protagonistas políticos que darão uma nova roupagem para um processo social
mais amplo: a classe média e a concretização da Revolução Burguesa no Chile.
É
importante notar que a classe média assume a ponteira da discussão política nos
anos 1930 e 1940 por conta da ascensão de um velho partido, o Partido Radical. Sua
proposta de condução do Estado promovendo uma reestruturação político-institucional
é avistada como importante para os setores da classe trabalhadora. Em seu
início, o período conhecido como Radicalismo,
conta com o apoio e coligação eleitoral do Partido Comunista do Chile, uma das
principais organizações dos trabalhadores. No entanto, após algumas
divergências de ordem social, a configuração política se desenha insustentável
para a manutenção do apoio dos comunistas, que acabam rompendo com o Radicalismo.
Toda
a efetividade de uma política de centro-esquerda dá espaço para uma nova
coalizão de centro-direita, ainda liderada pelo Partido Radical, mas que,
agora, não mais dirige estas reestruturações no sentido de ampliar a
democratização dos espaços políticos e promover uma inserção contundente da
classe trabalhadora na discussão de um projeto de país.
Este
movimento de espectro restritamente político está em consonância com a
necessidade posta de se ter um novo projeto de país. A grande disputa esteve
entre um projeto de industrialização (liderada pelo PR e com apoio da esquerda)
e o projeto reacionário e conservador liderado pelo Partido Nacional, local de
aglomeração dos latifundiários e católicos.
Contudo,
a predominância do Radicalismo se encerra em 1952 com a eleição do candidato da
direita, Jorge Alessandri. Este é um momento-chave também pois é possível
visualizar um grave racha no movimento católico com a fundação do Partido
Democrata Cristão no Chile. Ele, crescentemente, é quem assumirá as intenções e
as demandas da classe média no país.
Torna-se,
rapidamente, uma das principais forças eleitorais chilenas com inserção no
movimento sindical. No que se refere à classe trabalhadora, neste período
iniciam-se as tentativas de uma frente de esquerda. Formula-se, para as eleições
de 1970, a Unidade Popular, uma frente de coalizão de todos os movimentos e
forças políticas de esquerda: Partido Socialista, Partido Comunista, Mapu, MIR,
dentre outras.
A
disputa acirrada entre as mais variadas frações da burguesia no campo das eleições
era conseqüência, e também impulsionadora, de um amplo espectro de mudança.
Havia, pelo menos desde a década de 1920, a disputa política por um novo
projeto de nação que engendra novas formas de produção.
A
dualidade industrialização x latifúndio
foi levada às últimas conseqüências. No entanto, como a história dos homens é
feita por eles mesmos, a dinâmica da vida social não é mecânica e
pré-determinada. Neste entrevero surge, amadurece e põe-se em disputa um
projeto, com sua equivalente eleitoral (Unidade Popular), de uma nova
sociedade. Concretiza-se ao longo de todo este tempo uma alternativa comunista.
Desde
os anos 1920, a necessidade de modernizar o país obrigou que burguesia desse
uma resposta. Dentro da ampla classe dominante, o projeto não foi um só.
Acontece que na construção política de uma nova base social de produção, um
outro projeto, o revolucionário dos comunistas, se articularam e colocaram-se
como alternativa. A vitória da UP é demonstração da força, do avanço nas consciências
de classe e do enraizamento da proposta comunista. A burguesia e os
latifundiários unificaram-se em um "novo" projeto onde a classe
trabalhadora permaneceria fora do processo decisório.
Este projeto ficou vinculado à
figura de Augusto Pinochet, como o herói da cidadania chilena, o homem de
retidão moral que refundaria o Estado chileno. Assumiu a postura de
equivaler-se à um novo amontoado de instituições e modalidades de gestão
públicas. Foi a mão forte do mercado e o rosto "rejuvenescido" da
proposta programática liberal.
No
lugar de grandes transformações que a burguesia bradou ao longo do século,
concretizou-se o mais do mesmo: FAÇAMOS NÓS, A BURGUESIA, A REVOLUÇÃO (em nosso
interesse!) ANTES QUE O POVO A FAÇA.
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