Neste dia 31 de março, precisamos voltar nossos olhos para a
história brasileira, tirando lições de uma de nossas piores épocas. Pois que,
neste dia, há exatos 50 anos, os militares optavam pela via da tomada do poder
pelas armas, dando início a 21 anos de governos militares.
Pode-se se falar de vários aspectos positivos que costumeiramente
são ditos sobre o governo militar como verdadeiras mentiras. Diz-se que nos
tempos da ditadura havia pouca violência, ainda mais se comparada com aquela
que existe hoje. Pois bem, é preciso lembrar o quanto, antes da ditadura, a
sociedade brasileira era violenta, e quando isso for feito se perceberá que a
violência de então estava atrelada às lutas sociais, e que a violência
urbanizada dos dias de hoje é fruto de um desenvolvimento econômico que
amesquinhador, que centraliza a riqueza nas mãos de poucos. Uma forma de
desenvolvimento, diga-se de passagem, gestada e levada a cabo pelo próprio
regime militar. Depois de um período de “milagre” econômico, a economia
nacional viveu anos de agrura, que redundaram na crise inflacionária do final
dos anos 80 e do início dos anos 90. Assim, a ideia de que o regime militar
também desenvolveu o Brasil também seria um erro. Ainda poderiam falar que
naquela época não havia corrupção, que a lisura da hierarquia militar não
permitiria tal postura. Obras como a Transamazônica, a usina hidrelétrica de
Itaipu, a ponte Rio-Niterói e o Minhocão foram superfaturadas, tal como
acontece ainda nos dias de hoje. Essas visões equivocadas sobre o que foi o
regime militar brasileiro garantem a defesa dos interesses de quem estava por
detrás do golpe, e que ainda permanece às escondidas, mantendo sua condição de
vida à custa de relações de poder que mantém grande parcela da população
nacional longe da riqueza produzida.
Embora ainda existam pessoas que insistam em conclamar novamente
os militares a assumir o poder, para supostamente sanar nosso Estado da
corrupção, ou mesmo da ameaça inexistente de um governo comunista capitaneado
pelo PT, é preciso lembrar o grau de perversidade envolvida nas ações de
repressão. No poder os militares foram responsáveis pela eliminação física –
seja pela morte de opositores, seja pela tortura – de uma geração inteira de
pessoas dispostas a dar a vida pela defesa de uma sociedade mais igualitária e
democrática. Quem defende o retorno da ditadura por não se sentir livre deveria
deixar de apenas sentir e pensar que seus protestos são permitidos, como em
qualquer outra sociedade com o mínimo de democracia. Ao contrário do que aconteceu
com os opositores do regime, e ao contrário daquilo que acontece ainda hoje nas
favelas de nosso país. A Polícia Militar, criação herdada do período da
ditadura continua a torturar e eliminar, todos os dias, trabalhadores
brasileiros que não cometem crime algum, fora o fato de nascerem pobres e de
cor negra, que os digam Cláudia e Amarildo.
As charges de hoje, são do sempre combativo cartunista Carlos Latuff.