quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Dica Cultural da Semana 04/09/2014 A Batalha do Chile: A luta de um povo sem armas - Segunda parte O golpe de Estado (1977) de Patrício Guzmán



Ironicamente, hoje completam 44 anos do dia em que a Unidade Popular, encabeçada por Salvador Allende, gritava nas ruas a vitória nas urnas. Contudo, falaremos dos recursos utilizados pela burguesia chilena e internacional para derrubar o governo eleito. Os tempos que se aproximavam seriam intensos e cada vez mais polarizadores.

Em 1964, elege-se Eduardo Frei, candidato da Democracia Cristã, para o governo. Como é possível ver em alguns autores que estudam o assunto, durante o governo de Frei o Chile foi o país que mais recebeu, per capita, dinheiro dos Estados Unidos da América. Não obstante, muitas das reformas efetivadas pelo programa de governo chamado "Revolução em Liberdade", tivesse um claro conteúdo de facilitar o domínio dos capitais estadunidenses sobre os setores estratégicos do país: cobre e salitre.

Quando das eleições em 1970, o candidato Salvador Allende ganha as eleições por uma margem apertada e foi necessário que a Constituição fosse visitada. Na história política do Chile, todo candidato que ganha as eleições, mas não com mais de 50% dos votos, precisa que o Senado e a Câmara de Deputados viabilize, assinando, a posse do candidato. Radomiro Tomic, candidato do campo progressista da Democracia Cristã, logo assume e ratifica a vitória de Allende visando não tumultuar o processo. No entanto, os demais colegas correligionários e de outros partidos não querem deixar que o marxista Allende assuma o poder.

Abdicam certamente dos procedimentos democráticos em favor da manutenção do governo nas mãos de um deles. E é aqui que começam todos os preparativos para o fatídico dia 11 de setembro de 1973 em que Allende morre lutando por seu governo, por seus ideais, pelo socialismo enquanto possibilidade existente.

A princípio, toda a articulação anti Allende se reúne para pensar os passos que serão adotados. Dois são os caminhos: dar um golpe de Estado antes mesmo da posse; ou, asfixiar o governo economicamente e por conta da desestabilização forçar a queda de Salvador.

O ex-ministro do Interior de Eduardo Frei, Edmundo Pérez Zujovic, deu declarações em que afirmava tempos sombrios com a posse de Allende. Isto ocasionou uma grande corrida de saques nos bancos, causando uma desestabilização monetária e financeira antes mesmo da UP assumir o governo.

Não bastasse isto, setores mais radicalizados da extrema direita tentam um ato desesperado: fazem uma emboscada para o então comandante-em-chefe das Forças Armadas, René Schneider, líder das forças constitucionalistas, que acaba com sua morte. A ideia era colocar a culpa na instabilidade social que o governo marxista já estava causando no território chileno.

Acontece que o tiro saiu pela culatra, pois os responsáveis acabaram sendo descobertos e com isto, desfez-se o mistério sobre a autoria: ligações evidenciavam os mandatários entre os militantes de extrema direita.

O intento originário de impedir a posse se foi junto à morte de René. As forças opositoras ficam desfavorecidas e enfraquecidas politicamente para tentar algo mais. Allende assume o governo.

Após o fato consumado, as conversas e articulações políticas da oposição precisavam ser mais efetivas e cirúrgicas. Dois caminhos foram pensados: a) track 1: que tratava das medidas políticas de estrangulamento do governo e asfixia monetária; 2) track 2: ou então, "ações encobertas", que compunham medidas de agitação e financiamento de grupos paramilitares e de extrema-direita.

No que diz respeito à track 1 as ações feitas foram: 1) criação de um mercado paralelo de itens de primeira necessidade. Ficaram conhecidos pela forma como impulsionava os setores de classe média para a agitação direitista; 2) corte de financiamentos dos governos como EUA, corte dos empréstimos, o que impossibilitava tornar efetivos e por em práticas as políticas sociais do governo Allende; 3) denúncias e mais denúncias de locais de estocagem de armamentos das organizações aliadas ao governo da UP; 4) desestabilização política em uma crescente polarização política e a criação de um bloco na Câmara e no Senado para barrar todas as medidas propostas pelo Executivo.

Quanto à track 2: 1) financiamento de grupos armados para-militares de extrema-direita como o "Pátria y Libertad"; 2) agitação ideológica com grandes e violentos atos pelas ruas das principais cidades do país; 3) explosão de gasodutos e de plantas industriais para complicar a produção nacional e insuflar as frações da classe dominante e amplos setores da camada média contra o governo; 4) treinamento militar e estratégico dos militantes e militares adeptos ao Golpe de Estado, pela CIA dos EUA.


O que não se pode deixar de esconder é que concomitantemente à isto tudo, ocorriam conversas entre embaixadores estadunidenses e políticos da direita; o empurro para que as forças políticas de centro, em especial a Democracia Cristã, deixasse de dialogar com o governo UP; articulação entre setores da sociedade civil organizada e oficiais de alta patente das três Forças Armadas: Exército, Marinha e Força Aérea. Ocorriam também campanhas internacionais de difamação do governo de Allende. Cardeais de Roma soltaram notas em jornais de grande veiculação, dizendo dos perigos de um governo marxista, COMUNISTA.


Como fim último desta trama pensada por grandes diplomatas, políticos profissionais, oficiais de alta patente e executivos de grandes oligopólios, em junho de 1973 houve um "ensaio" do golpe de Estado que estava por acontecer. O General Viaux se antecipou, por conta de sua ira anti comunista, colocou os regimentos blindados de Santiago nas ruas pedindo a deposição de Salvador Allende.

José Tohá, ministro de Defesa de Allende, Augusto Pinochet (futuro ditador e cabeça do golpe em setembro) e Carlos Prats, comandante-em-chefe das Forças Armadas no Chile, comandaram as tropas leais ao governo para sufocar o levante direitista. Rapidamente foram sufocados e seus interlocutores presos.

Neste entremeio, Allende decide-se por convocar um grande plebiscito popular que daria as bases para a continuidade ou não de seu governo. As forças de inteligência contrárias descobriram a intenção de Allende de contar com a população para manter seu governo e decidiram agir antes. Sabiam que Allende faria o anúncio no mesmo dia 11 de setembro de 1973 sobre sua decisão.

A base social que mantinha de pé o governo Allende era adepta da estratégia revolucionária em que pese o grande destaque deste processo para o "espectro" institucional. Esta ação poderia ser difícil de conter caso Allende ganhasse o plebiscito.


O ano era 1973, dia 11 de setembro, pouco mais das 8:00 da manhã. Oficiais de alta patente, entre eles Augusto Pinochet, então comandante-em-chefe das Forças Armadas, rebelaram-se contra o governo com o apoio de inúmeros regimentos dos blindados de Santiago, com maciça sustentação da Marinha e com o usufruto da logística e armamento estadunidense.


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