Ironicamente,
hoje completam 44 anos do dia em que a Unidade Popular, encabeçada por Salvador
Allende, gritava nas ruas a vitória nas urnas. Contudo, falaremos dos recursos
utilizados pela burguesia chilena e internacional para derrubar o governo
eleito. Os tempos que se aproximavam seriam intensos e cada vez mais
polarizadores.
Em
1964, elege-se Eduardo Frei, candidato da Democracia Cristã, para o governo.
Como é possível ver em alguns autores que estudam o assunto, durante o governo
de Frei o Chile foi o país que mais recebeu, per capita, dinheiro dos Estados
Unidos da América. Não obstante, muitas das reformas efetivadas pelo programa
de governo chamado "Revolução em
Liberdade", tivesse um claro conteúdo de facilitar o domínio dos
capitais estadunidenses sobre os setores estratégicos do país: cobre e salitre.
Quando
das eleições em 1970, o candidato Salvador Allende ganha as eleições por uma
margem apertada e foi necessário que a Constituição fosse visitada. Na história
política do Chile, todo candidato que ganha as eleições, mas não com mais de
50% dos votos, precisa que o Senado e a Câmara de Deputados viabilize,
assinando, a posse do candidato. Radomiro Tomic, candidato do campo
progressista da Democracia Cristã, logo assume e ratifica a vitória de Allende
visando não tumultuar o processo. No entanto, os demais colegas
correligionários e de outros partidos não querem deixar que o marxista Allende
assuma o poder.
Abdicam
certamente dos procedimentos democráticos em favor da manutenção do governo nas
mãos de um deles. E é aqui que começam todos os preparativos para o fatídico
dia 11 de setembro de 1973 em que Allende morre lutando por seu governo, por
seus ideais, pelo socialismo enquanto possibilidade existente.
A
princípio, toda a articulação anti Allende se reúne para pensar os passos que
serão adotados. Dois são os caminhos: dar um golpe de Estado antes mesmo da
posse; ou, asfixiar o governo economicamente e por conta da desestabilização
forçar a queda de Salvador.
O
ex-ministro do Interior de Eduardo Frei, Edmundo Pérez Zujovic, deu declarações
em que afirmava tempos sombrios com a posse de Allende. Isto ocasionou uma
grande corrida de saques nos bancos, causando uma desestabilização monetária e
financeira antes mesmo da UP assumir o governo.
Não
bastasse isto, setores mais radicalizados da extrema direita tentam um ato
desesperado: fazem uma emboscada para o então comandante-em-chefe das Forças
Armadas, René Schneider, líder das forças constitucionalistas, que acaba com
sua morte. A ideia era colocar a culpa na instabilidade social que o governo
marxista já estava causando no território chileno.
Acontece
que o tiro saiu pela culatra, pois os responsáveis acabaram sendo descobertos e
com isto, desfez-se o mistério sobre a autoria: ligações evidenciavam os
mandatários entre os militantes de extrema direita.
O
intento originário de impedir a posse se foi junto à morte de René. As forças
opositoras ficam desfavorecidas e enfraquecidas politicamente para tentar algo
mais. Allende assume o governo.
Após
o fato consumado, as conversas e articulações políticas da oposição precisavam
ser mais efetivas e cirúrgicas. Dois caminhos foram pensados: a) track 1: que tratava das medidas
políticas de estrangulamento do governo e asfixia monetária; 2) track 2: ou então, "ações
encobertas", que compunham medidas de agitação e financiamento de grupos
paramilitares e de extrema-direita.
No
que diz respeito à track 1 as ações
feitas foram: 1) criação de um mercado paralelo de itens de primeira
necessidade. Ficaram conhecidos pela forma como impulsionava os setores de
classe média para a agitação direitista; 2) corte de financiamentos dos
governos como EUA, corte dos empréstimos, o que impossibilitava tornar efetivos
e por em práticas as políticas sociais do governo Allende; 3) denúncias e mais
denúncias de locais de estocagem de armamentos das organizações aliadas ao
governo da UP; 4) desestabilização política em uma crescente polarização
política e a criação de um bloco na Câmara e no Senado para barrar todas as
medidas propostas pelo Executivo.
Quanto
à track 2: 1) financiamento de grupos
armados para-militares de extrema-direita como o "Pátria y Libertad"; 2) agitação ideológica com grandes e
violentos atos pelas ruas das principais cidades do país; 3) explosão de gasodutos
e de plantas industriais para complicar a produção nacional e insuflar as
frações da classe dominante e amplos setores da camada média contra o governo;
4) treinamento militar e estratégico dos militantes e militares adeptos ao
Golpe de Estado, pela CIA dos EUA.
O
que não se pode deixar de esconder é que concomitantemente à isto tudo,
ocorriam conversas entre embaixadores estadunidenses e políticos da direita; o
empurro para que as forças políticas de centro, em especial a Democracia
Cristã, deixasse de dialogar com o governo UP; articulação entre setores da
sociedade civil organizada e oficiais de alta patente das três Forças Armadas:
Exército, Marinha e Força Aérea. Ocorriam também campanhas internacionais de
difamação do governo de Allende. Cardeais de Roma soltaram notas em jornais de
grande veiculação, dizendo dos perigos de um governo marxista, COMUNISTA.
Como
fim último desta trama pensada por grandes diplomatas, políticos profissionais,
oficiais de alta patente e executivos de grandes oligopólios, em junho de 1973
houve um "ensaio" do golpe de Estado que estava por acontecer. O
General Viaux se antecipou, por conta de sua ira anti comunista, colocou os
regimentos blindados de Santiago nas ruas pedindo a deposição de Salvador
Allende.
José
Tohá, ministro de Defesa de Allende, Augusto Pinochet (futuro ditador e cabeça
do golpe em setembro) e Carlos Prats, comandante-em-chefe das Forças Armadas no
Chile, comandaram as tropas leais ao governo para sufocar o levante direitista.
Rapidamente foram sufocados e seus interlocutores presos.
Neste
entremeio, Allende decide-se por convocar um grande plebiscito popular que
daria as bases para a continuidade ou não de seu governo. As forças de
inteligência contrárias descobriram a intenção de Allende de contar com a
população para manter seu governo e decidiram agir antes. Sabiam que Allende
faria o anúncio no mesmo dia 11 de setembro de 1973 sobre sua decisão.
A
base social que mantinha de pé o governo Allende era adepta da estratégia
revolucionária em que pese o grande destaque deste processo para o
"espectro" institucional. Esta ação poderia ser difícil de conter
caso Allende ganhasse o plebiscito.
O
ano era 1973, dia 11 de setembro, pouco mais das 8:00 da manhã. Oficiais de
alta patente, entre eles Augusto Pinochet, então comandante-em-chefe das Forças
Armadas, rebelaram-se contra o governo com o apoio de inúmeros regimentos dos
blindados de Santiago, com maciça sustentação da Marinha e com o usufruto da
logística e armamento estadunidense.
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